terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Após demolição, ex-barraqueiros reergueram paraísos na orla

Foto: Antonio Saturnino
Por Leo Barsan - Correio

Era uma casa muito bacana perto da praia. Do lado de fora, era como as outras no local: tinha teto, chão e todos podiam dormir na rede. Hoje, a fachada daquele imóvel azul continua a mesma, mas o cenário do quintal mudou.
Agora, a parte externa abriga a nova Barraca do Lôro, feita com muito esmero, na rua Desembargador Manoel de Andrade Teixeira, Praia do Flamengo, número 266.

A vocação para celebrar a vida à beira-mar foi a onda que deu ao empresário Aloísio Melo Filho, mais conhecido como Lôro, energia para reerguer seu empreendimento,  que foi uma das  349 barracas de praia de Salvador demolidas por determinação da Justiça Federal, em agosto do ano passado.

“Derrubou num dia, no outro já saí procurando novo local para continuar. Esse lugar é a identificação do meu estilo de vida. Pego onda desde menino. A derrubada não seguiu os critérios devidos e a gente acabou indo no bolo. Provamos que estávamos corretos, mas não adiantou”, lembra.

E a busca de Lôro rendeu. “Comprei esse imóvel, mantive a estrutura e levei seis meses moldando o ambiente. A ideia era conceber um lugar encantador. Uma palavra que define esse espaço é ‘celebração’. A nossa casa tem alma”, comemora o empresário.

Quem entra no pedaço praieiro e luxuoso é cercado de natureza, conforto e mordomia. “Mantive o conceito só que num espaço maior”, enfatiza.

“Nesse lugar, os amigos encontram zelo pela sustentabilidade, massoterapia, parque infantil, loja com produtos diversos, internet, cardápio e som diferenciados e segurança”, explica.

Conforto

A reprodução do paraíso, segundo Lôro, foi inspirada em suas andanças por praias mundo afora. “Depois de nove temporadas na Indonésia, o local me inspirou bastante na questão da natureza. Além disso, as Maldivas (arquipélago localizado no Sudoeste do Sri Lanka, na linha do Equador) também contribuíram”, expõe.

“Trago ideias de outros lugares e me coloco no lugar dos clientes. Quando comecei, não tinha essa pegada empresarial”, revela ele, que fundou a Barraca do Lôro há 16 anos.

Para entrar na casa, todos os dias, das 8h às 18h, os visitantes usam a Passarela das Artes, que reúne obras de dez artistas plásticos, entre eles Bel Borba, Leonel Matos e Juarez Paraíso. “São todos meus amigos e fizeram essa homenagem a minha tia Matilde Matos. Foi algo natural”, relata.

pioneirismo Antes de reinauguar a marca em maio, o empresário não se deu por satisfeito e abriu uma barraca “mais intimista”, na rua do Caramujo, Pedra do Sal, em  Itapuã. O nome do lugar mais parece um convite em bom baianês: “Bora Bora”.

“Não deixa de ser um chamado, mas é o nome de uma paradisíaca ilha no Tahiti”, lembra Lôro. No charmoso ambiente, aberto desde abril, o sossego é a maior atração. “É um lugar pra relaxar e para um público mais familiar”. O estabelecimento é aberto diariamente, entre 8h e 18h.

“Comprei a marca Bora Bora, arrendei a parte de trás de uma pousada (Acqua Marina) e abri a barraca. Aos poucos, vamos dispor de alguns serviços que já são oferecidos no Lôro, como a massoterapia e o parque infantil”, indica.

De volta à Praia do Flamengo, ao lado da primeira barraca conceito  de Salvador, outro estabelecimento foi inaugurado há cerca de um mês, com o mesmo conceito de luxo e conforto do vizinho. No local onde funciona o Pipa Bar e Restaurante também era uma residência.

Os proprietários, porém, preferiram não fornecer detalhes do local, que também oferece conforto e requinte.

Opções diferentes

Sobre uma possível multiplicação de barracas conceito na orla de Salvador, o empresário Aloísio Melo Filho, o Lôro, acredita que este é um processo normal.“Acho natural que as boas ideias se multipliquem. É vocação de Salvador. Só me sensibilizo com quem não conseguiu continuar. A cidade perdeu muito com a derrubada das barracas. Ficou órfã”, analisa.

Ao lado da barraca dele, há um mês surgiu o Pipa Bar e Restaurante, que traz proposta semelhante quanto ao atendimento diferenciado aos clientes. O estabelecimento chegou a ser interditado pela Sucom antes mesmo da inauguração “por ocupar de maneira irregular uma faixa de areia da praia”. A construção do bar também foi alvo da autarquia. Mas, segundo a superintendência, todas as pendências do local já foram solucionadas.